domingo, 26 de julho de 2009

A Liberdade guia o povo


Através da análise da obra pintada por Eugène Delacroix em 1830 intitulada A Liberdade guia o povo, é possível tecer uma fecunda reflexão sobre as implicações sociais da arte, tanto quanto ao seu conteúdo como também no que diz respeito à sua forma.

A necessidade de relatos imediatos dos acontecimentos repercutiu intensamente na arte do período.

Portanto, é extremamente significativo que no Salão parisiense de 1831 Delacroix exponha a tela intitulada A liberdade guia o povo, com a qual, segundo Argan, a "arte deixa de se remeter ao antigo e se propõe ser, a qualquer preço, do seu próprio tempo". (Argan, 1993, p. 57).

Com essa obra Delacroix subverte as convenções que estabeleciam as alegorias, a história antiga, a religião e os feitos heróicos de personagens ilustres como temas dignos de serem representados através da pintura, dedicando-se a retratar uma sublevação popular da qual foi testemunha ocular ocorrida entre os dias 26 e 28 de julho de 1830 e que culminou na deposição do rei Carlos X. O motivo: a suspensão, pelo monarca deposto, de várias disposições democráticas, entre elas a liberdade de imprensa.

Delacroix se reporta a tais acontecimentos, condensando-os em uma cena de batalha através da qual não só exalta a bravura dos combatentes mas também caracteriza, através de detalhes significativos, a origem de cada personagem, como um ilustrador atento que captasse os aspectos mais relevantes do fato presenciado. É certo que na figura feminina, representando a Liberdade e que domina a composição, ainda há vestígios dos modelos gregos tão caros à arte praticada na França, como também é inequívoco o seu caráter alegórico. Entretanto, com igual ênfase, há traços que revelam sua condição de mulher do povo, como os seios sujos de pólvora e a indiscreta pelosidade das axilas.

Sua mão direita, resolutamente erguida, empunha a bandeira tricolor transformada em símbolo de sublevação na Revolução Francesa (1789). Na mão esquerda segura um fuzil com baioneta no cano, o que significa estar preparada para a batalha corpo a corpo. A cabeça é coberta por um gorro frígio, chapéu originário da antiga Pérsia e usado em Roma por escravos sublevados que, ao ser adotado durante a Revolução Francesa, converteu-se em um dos símbolos da República.

A caracterização da Liberdade e dos demais personagens da cena pintada como pessoas do povo causou profunda indignação na crítica da época que reagiu com comentários sarcásticos e acerbos.

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